Gaúcho de Uruguaiana, Marlon Marques planta 18 mil hectares de arroz que produzem 8 toneladas por hectare. O catarinense Antonio Gonzaga, de Chapecó, administra uma empresa que planta 5.000 hectares de soja, com produtividade de 60 sacas por hectare, além de milho e trigo. Os dois fazem parte de um grupo de agricultores brasileiros que escolheu produzir alimentos no Paraguai impulsionados pelo preço mais baixo da terra e pelo custo de produção inferior ao do Brasil.
Os primeiros produtores brasileiros começaram a chegar ao país vizinho há cerca de 40 anos. Atualmente, estima-se que sejam “brasiguaios” cerca de 60% a 70% dos produtores de soja do Paraguai, país que já é o terceiro maior produtor do grãos na América Latina, com 9,5 milhões de toneladas, atrás apenas de Brasil e Argentina.
Marlon, descendente de italianos, arrendou as primeiras áreas no Paraguai há 10 anos para plantar arroz, seguindo o que aprendeu na lavoura do pai que ficou no Rio Grande do Sul. Hoje, ele integra o Grupo Eladia, formado por quatro sócios brasileiros e um paraguaio, que planta arroz em 18 mil hectares, sendo 40% terras próprias, e começa a fazer rotação de área com o plantio de 800 hectares de soja. Toda a produção é exportada para Europa, América Central, América do Sul, África e Iraque. O Brasil já foi o principal destino, mas isso mudou há dois anos por causa do câmbio.
+ Expodireto termina com R$ 2,419 bilhões em negócios
+ Fabricantes apresentam maquinários para pequenos e grandes produtores
+ Novas tecnologias atraem visitantes da Expodireto Cotrijal
Além do custo menor da terra, o produtor cita como fatores que o fizeram escolher o Paraguai a topografia mais plana (as fazendas do grupo ficam na região de Neembucu, no sul do país), que demanda menor uso de máquinas, combustível, energia e funcionários. Os produtores também têm à disposição insumos e agroquímicos mais baratos que os produtos vendidos no Brasil.
“Eu me sinto um cidadão paraguaio. Essa terra me acolheu e quero retribuir produzindo e cuidando do solo”, disse o agricultor de 40 anos em Colonia Iguazú, onde visitava a Feira Agropecuária Innovar. O que não está bom, diz Marlon, é o preço do arroz nos últimos quatro anos. “Diminuiu muito o número de produtores de arroz no país porque a tonelada estagnou em 210 dólares, quando o preço ideal para pagar os custos e gerar lucro ao produtor seria 250 dólares.”
Antonio trabalhava para uma cooperativa em Chapecó que produzia soja e milho. Há 20 anos, foi passear no Paraguai e recebeu uma proposta irrecusável. Desde então, administra fazendas para um grupo de brasiguaios que chegou ao país dez anos antes, quando o hectare custava menos de R$ 10 mil _hoje, avalia, custa dez vezes mais. “Mas o custo de produção no Paraguai é bem menor, os fungicidas são 50% mais baratos e tem menos impostos.” Ele conta que há dois anos o grupo está em processo de certificação para a soja, visando preservar o meio ambiente e elevar os ganhos na exportação.
Já Amauri Turatto, de 23 anos, nasceu no Paraguai, mas se considera brasileiro. Ele trabalha com o pai, Laury Turatto, que, há 40 anos, trocou a cidade paranaense de Toledo por Capitán Bado, cidade que faz divisa com o município de Coronel Sapacuia, do Mato Grosso do Sul. “Na época em que meu pai chegou aqui com 4 dos 15 irmãos, se comprava um hectare com uma carteira de cigarros, mas hoje a terra custa mais caro que a do Paraná.”
Pai e filho plantam 700 hectares de soja e milho. Em anos normais, a produtividade da soja chega a 70 sacas por hectare, mas nesta safra, que teve graves problemas climáticos, deve ficar em torno de 45 sacas. Estudante de agronomia, Amauri diz que no Paraguai o uso de agrotóxicos é liberado e o custo, 50% inferior. Como desvantagem em relação ao Brasil, ele cita a falta de financiamento público ao produtor.
Todos os agricultores destacam que a produção no Paraguai está no mesmo status tecnológico da brasileira. Plantio direto, mecanização de plantio e colheita e adoção de agricultura de precisão são comuns à maioria dos brasiguaios. “Bem diferente da época em que meu pai chegou, quando todo o trabalho era braçal. Ele me conta que plantava soja no meio dos tocos”, fala Amauri.
O mexicano Cornelius Remper também é produtor de soja no Paraguai. “Em 1974, me ofereceram terras baratas no Paraguai, onde é mais fácil plantar. No México, 90% da plantação tinha que ser irrigada. Aqui temos chuva o suficiente”, diz o “mexiguaio” que começou com 2 hectares e hoje tem 600 hectares, 140 deles com soja, na região de São Pedro, no centro do Paraguai.
Feira agropecuária
Cerca de 140 expositores, 650 marcas nacionais e importadas e estimativa de receber de 15 mil a 17 mil visitantes. Esses são os números da Feira Agropecuária Innovar 2019, que encerra sua terceira edição nesta sexta-feira (22) em Colonia Iguazú, a 60 km de Foz do Iguaçu. A área de 35 hectares foi arrendada por cinco anos junto ao Cetapar (Centro Tecnológico Agrícola do Paraguai), órgão privado de pesquisa do país vizinho.
Segundo Carlos Gomez, gerente geral da feira, 47 empresas se uniram há quatro anos para idealizar o evento, inspirado em feiras brasileiras como a Agrishow e a Copavel e motivados pelo ritmo de crescimento da agricultura do país. A primeira edição teve 95 expositores e recebeu 11 mil visitantes. O gerente não revela dados de faturamento. Apenas informa que a movimentação financeira cresce 30% a cada ano e que o investimento deste ano na feira foi de cerca de US$ 700 mil.
+ Após anos de vendas represadas, produtores voltam a comprar na Expodireto
+ Temporal danifica estandes na Expodireto Cotrijal
Marcas multinacionais em operação no Brasil como New Holland, John Deere, Jacto, Trimble, Valley, Corteva, Bayer, Agrotec, Tracto, Agrofertil e outras estão presentes à feira paraguaia, que tem como idioma mais falado justamente o português. Além de venda de máquinas agrícolas, de insumos e equipamentos de agricultura de precisão, a Innovar tem espaço para dinâmicas de máquinas, test-drive de veículos, auditório para cursos e capacitação e exposição de raças bovinas e de suínos.
Segundo Carlos, a agropecuária paraguaia avança a passos rápidos e o desafio do momento é trabalhar as questões do meio ambiente. “Há muito a se corrigir para cumprir as leis ambientais, mas estamos a caminho.” Ele acredita que a soja, principal produto de exportação agrícola do país, tenha potencial para crescer mais 1,5 milhão de hectares para ocupar 5 milhões de hectares, apesar de os produtores atuais estarem mais interessados em aumentar a produtividade e não a área.
Curte o conteúdo da Globo Rural? Ele também está no Globo Mais. Nesse aplicativo você tem acesso a um conteúdo exclusivo e às edições das melhores publicações do Brasil. Cadastre-se agora e experimente 30 dias grátis.
• A repórter viajou a Colonia Iguazú a convite da New Holland
Source: Rural
Source: Import Rural