O bloqueio da BR-163 está levando tradings de grãos a redirecionarem cargas para outros portos, como Santos e Paranaguá. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) estima, com base em informações de associadas, que de 10% a 20% do volume de soja previsto para os terminais no Pará estão mudando de rota, em que pese os custos dessa logística.
“Sai mais caro ficar dez, 15 dias na estrada e deixar o navio parado no terminal [esperando a carga chegar]. De Barcarena (PA) a Santos (SP), são três dias a mais de navegação. Para quem opera em vários portos, acaba sendo mais barato pagar esses três dias a mais do que esperar”, explica um executivo operacional de uma trading e operadora logística que atua na região norte do Brasil, segundo que essas operações vêm ocorrendo há pelo menos uma semana.
O economista-chefe da Abiove, Daniel Furlan Amaral, explica que o custo de realocação gira em torno de R$ 35 e R$ 40 por tonelada a mais, o que considera alto. E, além da parte financeira, é preciso pensar na estrutura operacional para remanejar a carga até o novo destino. A depender da rota, a mercadoria pode passar do caminhão para uma ferrovia ou hidrovia até chegar ao porto.
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Cada empresa tem sua estratégia, diz ele. Mas, de um modo geral, pelo menos por enquanto, a prioridade da indústria é embarcar a soja no Pará. “Havendo uma necessidade, as empresas vão buscar maneiras. Mas a maioria está optando por aguardar. Estamos em um pico de colheita, a safra foi bastante antecipada e tudo isso traz grandes desafios para toda essa logística.”
Por conta de fortes chuvas na região, um trecho da BR-163 ficou totalmente intransitável, entre Novo Progresso e Moraes Almeida, no Pará. A situação levou o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) a bloquear o tráfego na rodovia para reparos, feitos junto com o Exército.
Do lado mato-grossense da rodovia, o principal ponto de bloqueio está localizado em Guarantã do Norte, para evitar que as carretas cruzem a divisa com o Pará. A Superintendência do DNIT no Estado informou que esse ponto será liberado ao mesmo tempo que o lado paraense da rodovia.
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Com o tráfego sentido norte impedido, pelo menos cinco mil carretas estão paradas em Mato Grosso aguardam para cruzar a divisa interestadual, de acordo com informações da Delegacia da Polícia Rodoviária Federal em Sorriso (MT), que apoia as operações no local. Os veículos estão estacionados nos municípios de Guarantã do Norte, Matupá e Peixoto de Azevedo.
“Há um volume de caminhões muito grande, que está parado em Mato Grosso e cada empresa vai ter sua estratégia. Tem empresa que vai conseguir reter um pouco mais, algumas vão tentar redistribuir essa carga para outras rotas, mas o fato é que há sempre um prejuízo associado a isso”, diz Amaral.
De acordo com a Abiove, até a interrupção do tráfego na 163, o ritmo de embarque de soja de Mato Grosso em Miritituba (PA) estava em torno de 35 mil toneladas por dia. Pelo menos por enquanto, não há relatos de quebra de contratos. Os terminais têm o suficiente para embarques até a sexta-feira (8/3).
O economista-chefe diz que ainda não há uma estimativa de perdas ou custos adicionais para as empresas em função dos problemas na BR-163. Daniel Furlan Amaral evitou especular também se a tendência seria aumentar o redirecionamento de cargas para outros portos do Brasil. Disse apenas que, a depender da decisão tomadas pelas autoridades, será feita uma reavaliação.
“A nossa expectativa é de que a pista seja liberada para que a gente volte a ter normalidade nos embarques. E para 2019, falando um pouco mais no longo prazo, a gente espera a conclusão da rodovia e da infraestrutura de apoio para não ter mais esse tipo de problema”, afirma Amaral.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) espera terminar a pavimentação da BR-163 até o fim deste ano.
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