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economia-empresas-banco-santander (Foto: Raphael Salomão/Ed. Globo)

 

O Banco Santander Brasil anunciou, nesta segunda-feira (25/2), que passou a oferecer a seus clientes instrumentos de hedge para açúcar bruto, boi gordo, café arábica e soja. A mesa de operação de commodities agrícolas foi iniciada em novembro de 2018, destinada a produtores rurais com faturamento anual acima de R$ 30 milhões e empresas que faturem ao menos R$ 10 milhões.

Segundo a direção, a ideia é oferecer esse derivativo como complementar a um “pacote” que inclui financiamento e hedge de dólar, da qual a estrutura desse novo produto foi praticamente copiada. A expectativa é iniciar ainda neste ano operações com algodão, cacau, além de óleo e farelo de soja. Pelo menos por enquanto, não estão previstas operações com milho.

“Por simplicidade, iniciamos com os mercados mais simples. Outros produtos vão entrar à medida que o projeto for avançando neste ano”, disse o responsável pela mesa de operação de commodities do banco, Boris Gancev, em conversa com jornalistas na sede do banco, em São Paulo (SP).

Na prática, o banco passa a atuar de forma semelhante a uma corretora de commodities agrícolas no mercado futuro referenciado nas bolsas de Chicago, Nova York e na B3, no Brasil. O prazo das operações podem variar de um mês a três anos, de acordo com o risco de crédito do cliente. De modo geral, disse o executivo, setores como cana e café têm operações de mais longo prazo.

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Como os preços de commodities estão associados também ao risco da variação da cotação do dólar, é possível fechar o hedge de dólar e produto separadas ou em um só papel. A diferença é que o banco assume o risco dos depósitos de margem e dos ajustes diários até o vencimento do contrato, sem a necessidade de depósitos periódicos por parte do produtor.

“O mercado é muito carente de players financeiros para oferecer ao produtor a possibilidade de travar o preço futuro e o setor financeiro está mais bem posicionado para absorver esse risco de liquidez. Vamos ser uma alternativa à trading, disponibilizando o componente bolsa do preço”, explicou Gancev.

O diretor de Agronegócios do Banco Santander Brasil, Carlos Aguiar Neto, ressaltou que os derivativos de commodities agrícolas são voltados apenas para pessoas e empresas efetivamente ligadas à produção. Como a finalidade é de hedge, a decisão foi evitar a entrada de especuladores.

Segundo ele, as operações podem ser contratadas em qualquer momento do ciclo produtivo. Mas, usando como exemplo o mercado de soja, o executivo disse acreditar que a maior oportunidade de negócios com o derivativo está no pré-plantio. É quando, na avaliação dele, o produtor está mais vulnerável e em posição comercial desvantajosa em relação à trading.

“Esse momento é o pior para travar. Existe uma especulação e, ou o produtor fechou o custo ou vai plantar descasado. O que oferecemos é uma alternativa a isso. Ele pode tanto travar o preço do que ainda não vendeu como deixar de travar no físico e travar só a parte financeira da operação”, explicou Aguiar.

A base para avaliar o desempenho desse novo produto será a clientela que já opera com hedge cambial no Santander. Desses, entre 20% e 30% são do agronegócio. A expectativa é de que, desses, pelo menos 20% passem também a contratar hedge de commodities em um horizonte de três anos.

Mais crédito livre

Na conversa com os jornalistas, a direção de Agronegócios do Santander também detalhou suas expectativas para a carteira de crédito para agronegócio neste ano. O banco acredita em um crescimento de pelo menos 15%, mesmo considerando, por exemplo, uma expectativa de rentabilidade menor na produção de soja.

No cenário considerado pelo banco para o crédito rural, o governo federal tende a subsidiar um volume cada vez menor, por conta da situação fiscal do país. Uma sinalização dada ao mercado foi o aumento do volume de recursos direcionados para o Pronamp, de atendimento aos médios produtores, e ao Pronaf, de financiamento da agricultura familiar.

Outro sinal importante foi tornar menos complexa a estrutura de lastro para a emissão de Letras de Crédito do Agronegócios (LCA), vistas como um dos principais instrumentos de captação de recursos no mercado para financiamento do setor. Essa mudança é avaliada como estímulo à emissão desses títulos no mercado.

“Se o governo aumenta o crédito para Pronaf e Pronamp, vai privilegiar o pequeno e médio, dar o recurso subsidiado a quem tem menos condições de pagar juros altos. E, como diminuiu a complexidade da LCA, acreditamos que esse mercado vai andar daqui para frente”, analisou Aguiar.

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De acordo com dados do próprio governo, de julho de 2018 a janeiro de 2019, sete primeiros meses da safra 2018/2019, o volume de recursos originários desses títulos somou R$ 16,465 bilhões, aumento de 33% em relação ao mesmo intervalo na safra 2017/2018.

Números do Banco Central divulgados pelo Santander indicam que o banco chegou a 8% de participação no mercado de LCA em dezembro de 2018. Foram R$ 11,9 bilhões da instituição em um volume total de R$ 136,7 bilhões.

O diretor de Agronegócios do Santander Brasil acredita também que o governo deve também reduzir o nível da chamada exigibilidade, o porcentual dos depósitos à vista que os bancos têm que direcionar para o crédito rural. Sobraria, então, mais espaço para crédito livre, negociado a taxas de mercado.

Na visão do executivo, a proporção de créditos a juros livres seria maior em linhas de financiamentos gerais, como Moderfrota (máquinas e equipamentos) ou PCA (construção de ampliação de armazéns). O inverso ocorreria apenas no financiamento aos familiares, pequenos e médios produtores rurais.

“Existe um potencial de redução do direcionamento e de cair a exigibilidade do depósito à vista. Acredito que as mudanças virão na direção correta. Acho que estamos começando o desmame”, disse ele, referindo-se a declaração recente da ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Aguiar considera possível alguma mudança já para o Plano Agrícola e Pecuária da safra 2019/2020.

Atualmente, soja, milho e gado respondem, nessa ordem, pelos três maiores volumes financeiros da carteira de agro do Santander. Quatro anos atrás, só a pecuária bovina representava 40%. De 2015 para cá, as operações de crédito a juros livres, com taxas, passaram de um terço para metade do volume.

“O crescimento da minha carteira de agro está no crédito livre. Mudando a exigibilidade, a parcela que antes ia para o direcionado passa para o livre. Eu acredito que nesse ano, o livre vai passar o subsidiado”, disse Aguiar.

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