A safra brasileira de soja deve ser de 117,6 milhões de toneladas no ciclo 2018/2019, de acordo com a consultoria Agroconsult. Os números foram apresentados nesta quinta-feira (10/1), em São Paulo (SP), em entrevista coletiva que marca o início do Rally da Safra, expedição organizada pela empresa, que, neste ano, chega à 16ª edição e percorrerá os principais Estados produtores do Brasil.
O número é menor que o divulgado pela consultoria em novembro, que apontava uma produção de 122,8 milhões de toneladas. Mesmo com a expectativa de aumento da área plantada, dos 35,1 milhões de hectares na temporada passada para 36,2 milhões de toneladas na atual.
A estimativa da consultoria também é menor que a divulgada também nesta quinta-feira pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para a Companhia, a colheita deve ser de 118,8 milhões de toneladas, menos que as primeiras estimativas, que indicavam até 120 milhões de toneladas.
“Tudo leva a crer que a safra recorde do ano passado não será alcançada”, afirmou o sócio diretor da Agroconsult, André Pessoa, que admite fazer novas revisões para baixo nas estimativas. “Esse número tem a seguinte premissa: se as condições climáticas se regularizarem até o final da safra”, acrescentou.
Pessoa explicou que a safra atual de soja foi marcada por boas condições durante o período de plantio, que avaliou como “praticamente perfeito” na maior parte do país. No entanto, dezembro foi marcado por falta de chuvas e temperaturas mais quentes, que encontraram raízes menos aprofundadas no solo e afetaram o desenvolvimento das lavouras.
A quebra total de safra é estimada entre 4,5 milhões e 5 milhões de toneladas no total. Entre os Estados com situação mais grave, o Paraná deve ter uma quebra de 2,4 milhões de toneladas em relação as previsões iniciais da consultoria. Em Mato Grosso do Sul, a preda deve ser de um milhão de toneladas. “Estados que estão indo bem não significa que estão melhor que no ano passado”, pontuou, destacando Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso.
Diante desse cenário, a estimativa de produtividade da safra 2018/2019 de soja deve chegar a 54 sacas por hectare, na média nacional, abaixo do que ele chamou de linha de tendência do rendimento da oleaginosa no campo, mas não uma situação que pode ser considerada atípica na sojicultura nacional. No ano passado, a estimativa da Agroconsult era de 57 milhões de toneladas.
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O rendimento, em função do clima desfavorável, deve ser influenciado pelo menor peso (entre 5% e 20%) e pela presença de grãos verdes nas vagens.
“Mais importante do que a falta de chuvas foi o nível de temperatura, que encurtou o ciclo de desenvolvimento”, disse Pessoa, estimando esse encurtamento de ciclo entre uma semana e dez dias, o que é significativo, especialmente, em lavouras precoces. “A incerteza relacionada a peso de grão é decisiva em um ano como esse. É prematuro e arriscado fazer extrapolações porque as lavouras de ciclo médio e tardio estão bem”, acrescentou.
Apesar da revisão nas estimativas de produção, a Agroconsult mantém sua projeção de exportações de 73 milhões de toneladas de soja neste ano, redução em relação a 2018, quando o volume chegou a quase 84 milhões de toneladas. No entanto, Andre Pessoa reconhece que este número também pode ser revisado para baixo, em linha com a estimativa de produção.
“Se a safra for revisada para baixo, vai cair porque não tem estoque. No ano passado, foram quase 84 milhões de toneladas, mas exportamos excedente e estoque, que era maior do que o que se supunha”, explicou.
Mas a situação do mercado deverá sem bem diferente da verificada em 2018, avalia Pessoa. Segundo ele, os rumos da discussão comercial entre Estados Unidos e China ainda são um ponto de incerteza para o comércio global de soja. No final do ano passado, os dois países acertaram uma trégua de 90 dias na imposição de novas tarifas. Desde então, os americanos já embarcaram cerca de 5 milhões de toneladas de soja para o mercado chinês.
André Pessoa considera possível três opções: uma é a manutenção da guerra comercial sem que haja um acordo bilateral relacionado à soja. Outra é a prorrogação da trégua de três meses entre chineses e americanos ou até mesmo o fim da disputa. E uma terceira seria o fim da guerra comercial com a permanência de um acordo bilateral relacionado ao comércio de soja.
“Difícil dizer qual vai prevalecer, mas nenhuma das situações é faviorável ao Brasil. O mais fácil é dizer que a situação do segundo semestre de 2018 provavelmente não se repete. O mercado de 2019 para a soja brasileira será mais desafiante em termos de liquidez e sazonalidade”, disse Pessoa.
De acordo como consultor, a China atravessou seu período mais crítico de abastecimento de soja recebendo o grão brasileiro. E a expectativa era a de que os prêmios se mantivessem em patamares mais elevados que os atuais. Soma-se a isso, os preços mais baixos e a queda recente do dólar que, na visão de André Pessoa, tem sido o fator de maior peso na decisão de venda.
Pessoa acredita que entre 40% e 45% da safra nova de soja já tenham sido comercializados, o que seria um pouco menos que o normal nessa época do ano. Nos últimos 15 a 20 dias, as operações estiveram praticamente paralisadas, principalmente por conta da taxa de câmbio.
O que deve levar a uma retomada dos negócios é a concentração da colheita em fevereiro. De acordo com o sócio-diretor da Agroconsult, só no mês que vem, devem sair das lavouras algo em torno de 50 milhões de toneladas, 20 milhões a mais que o visto na mesma época em 2018. Considerando que há déficit de armazenagem, a necessidade de escoar a produção aumenta.
“Haverá rentabilidades menores que as do ano passado. E, além de ser menor, deve cair mais rapidamente a patamares que não são esperados pelos produtores. Quem vendeu a soja mais cedo e teve uma venda razoável se protegeu contra esse risco. Os outros vão enfrentar o mercado com os preços que estão aí”, pontuou o consultor.
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