Uma pequena fruta, cultivada principalmente na Colômbia, está despertando o interesse de produtores no sul de Minas Gerais. É a physalis peruviana (pronuncia-se “fisális”), uma fruta parente próxima do tomate. A planta é nativa das regiões temperadas, quentes e subtropicais de todo o mundo. No Brasil, no Norte e Nordeste a planta nasce como mato e tem vários nomes: camapum, joá- de-capote, saco-de-bode, bucho-de-rã e mata-fome.
Conhecida também como goldenberry, é considerada um superalimento, graças às suas propriedades nutricionais, pois, além de rica em vitamina A e C, possui nutrientes como ferro, fósforo e betacaroteno. Também é utilizada na decoração de doces gourmet, em geleias, sorvetes e sucos.
Mesmo que de forma acanhada, a fruta ganha espaço nos pomares do sul de Minas, onde é tradicional o cultivo de morango. Já são sete produtores, dos quais seis estão no município de Senador Amaral.
Um dos pioneiros é Ademar Onofre de Moura, produtor de Cambuí. Acostumado a plantar morango e brócolis, em 2011 ficou sabendo da physalis quando um tio lhe falou de uma fruta que viu numa reportagem na TV. “Eu sempre tive vontade de mexer com uma coisa diferente. A physalis para mim era desconhecida. Meu tio me convidou para participar de um dia de campo promovido pela Emater. Lá ganhei nove mudas e comecei o cultivo”, relembra.
Curioso, ficou matutando no que ia dar a nova produção. “Quando vi, já tinha nascido.” Entusiasmado, ele arou a terra, tirou as sementes de dez frutas (cada uma chega a ter até 200 sementes), fez 4 mil mudas… A partir daí não parou mais. As primeiras vendas não deram muito certo, por desconhecimento do público em relação à physalis. Ele conta que até hoje tem gente que nunca provou a fruta e chega a perguntar se é comida de passarinho ou flor, mas, depois de provar, a maioria diz conhecer, já que a iguaria remete ao sabor da infância de muitos.
Seu Ademar, mesmo com toda persistência, no começo chegou a pensar “em largar mão da physalis e voltar a plantar brócolis, porque não vendia a produção”, conta.
Graças à esposa, Lucimara, em 2013 ele teve a ideia de criar um site para divulgar os produtos. A dona de casa cuida do marketing pela internet e faz a divulgação boca a boca. Das mãos habilidosas da doceira saem geleias, sorvetes e até bombom à base da fruta. In natura ou congelada, as encomendas vão para todos os cantos. Até agora, o pedido mais longe que receberam veio do sul do país: 600 quilos da fruta congelada para geleia.
Pela rede, as principais encomendas são de noivas que querem o fruto para decoração de doces finos. Pensando em seu maior público online, Ademar comemora a entrada de setembro, já que em “agosto o povo não casa”, sorri. Outro pedido importante veio de Bauru, no interior paulista. “A fruta seria usada em cápsulas de suplementos alimentares”, diz, orgulhoso.
Com sabor agridoce, a physalis é colhida manualmente, uma por uma. A seleção é rigorosa. A qualidade é observada em conjunto com a palha. A partir daí é definida a forma de venda, se in natura, congelada, com ou sem palha. “O povo acha que não dá trabalho para plantar. Não é bem assim”, explica o agricultor. São necessários alguns cuidados com o manejo para evitar ácaros e pulgões, além da umidade e da forte geada, que podem prejudicar a lavoura. As plantas são amarradas e crescem em forma de Y. O estaqueamento é feito com bambu, arame e fitilho. Os brotos precisam ser cortados no caule, já que a planta pode chegar até 2 metros de altura. O plantio pode ser feito o ano inteiro: no verão, ela produz mais rápido, em torno de três meses para começar a colheita.
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De acordo com Ademar, a physalis, comparada com a produção do morango, sem dúvida tem custo mais baixo. Tudo na fruta é aproveitado. As que estão perfeitas são vendidas in natura, e as outras são congeladas. Até a palha seca serve para a decoração de bolos e docinhos gourmet, ou seja, não há perdas.
Apesar de alguns desafios para se consolidar no mercado, Ademar faz questão de ressaltar que “hoje em dia não deixaria a physalis por nada”. Animado, pretende plantar 700 mudas para a colheita em dezembro e já faz alguns planos: “Trocar o freezer, que está pequeno, por uma câmara fria”.
Quem chega ao Sítio Santo Antônio, em Senador Amaral, no lugar da antiga plantação de morango é possível avistar os enormes pés de physalis (1.800 ao todo) plantados em 300 metros quadrados. Agricultor de morango desde 1986, Bendito Rosa da Silva, conhecido como “Bendito Gustinho”, revela que já estava cansado da lida do morango.
“A sogra do meu filho começou a trabalhar na parte de limpeza da Berrygood (especializada em frutas vermelhas, a multinacional possui uma filial no município desde 2011). Ela viu a fruta na câmara fria e falou ‘por que vocês não plantam physalis para experimentar?’ Fui para a physalis por curiosidade junto com meu filho Fernando há um ano e estou até hoje”, recorda. Apesar de pouco tempo na nova empreitada, os produtores conseguiram a façanha de fornecer a fruta para a Berrygood. “Nós produzimos e vendemos para eles o ano inteiro. São 1.200 quilos por ano”, comemora Bendito.
Em relação ao lucro, o produtor diz que “a physalis dá para salvar a prata da gente, ajudou muito”. Em um ano, o ganho dele junto com o filho foi de R$ 40 mil. O quilo do produto é comercializado entre R$ 10 e R$ 35 (os preços variam se a fruta é fresca, congelada para atacado ou varejo), podendo ser mais caro, o que depende da região. A simpática frutinha de cor amarelo-ouro com variação para o tom alaranjado, mesmo que de forma vagarosa, pode ser o grande achado dos mineiros.
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