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agricultura_soja (Foto: José Medeiros/Ed. Globo)

 

Em dezembro de 2017, a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) estendeu em duas semanas a data limite para o plantio da soja no Estado. Desde 2016, o teto para o plantio é o dia 31 de dezembro. Na safra passada, excepcionalmente, a Agência estendeu até o dia 14 de janeiro a possibilidade de plantio.

A justificativa, naquele momento, foi o clima. Segundo a Adapar, sua variação foi muito grande no mês de setembro, com seca prolongada e depois chuvas, o que acabou atrasando as cultura de milho, feijão e soja. A medida visava amenizar o impacto dessa variação nas lavouras.

Este ano, o teto continua sendo o dia 31 de dezembro, mas, novamente, a discussão sobre a data limite volta à discussão. A Adapar abriu uma consulta pública em setembro para avaliar a possibilidade de mudança desta data. O objetivo é flexibilizar, como no ano passado, a semeadura, permitindo que ela seja feita em janeiro.

Entenda o caso

A janela de plantio da soja no Paraná começa em setembro, após o fim do vazio sanitário, e vai até o dia 31 de dezembro. A data limite foi regulamentada pela Adapar, com a portaria nº 202/2017, na tentativa de reforçar a eficácia do vazio sanitário, que tem como objetivo diminuir o risco de proliferação da ferrugem asiática e também evitar uma possível redução da eficácia dos agrotóxicos usados para controlar a proliferação do fungo.

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Na regulamentação atual, portanto, é proibido semear soja no Estado depois da data limite. Há multa diária para o produtor flagrado.

No documento que abre a consulta pública, a Adapar argumenta que a necessidade de alterar a data limite do plantio surgiu por causa dos produtores que residem em áreas com climas diferentes do restante do Estado, como o sudoeste. A Agência incluiu algumas exigências para a eventual mudança da data.

Entre elas está a obrigatoriedade de inscrever a área que será cultivada após o dia 31 de dezembro, bem como o produtor e o engenheiro agrônomo responsável. Se a mudança for aprovada, não será permitido plantar a cultura após já ter iniciado a colheita. E também não será permitido fazer mais de duas aplicações de produtos à base de carboxamidas, restrição que, segundo a Adapar, visa defender a eficiência desses produtos.

O risco

Após a abertura da consulta, a Embrapa Soja divulgou um posicionamento. Segundo os pesquisadores da estatal, a implementação da iniciativa da Adapar colocaria em risco a produção de soja no Estado, o que, por consequência, comprometeria também outras cadeias de produção agropecuárias.

Caso aprovada, poderá estimular outros Estados a reverem suas normativas nessa linha, colocando em perigo a cadeia brasileira de soja"
Embrapa

Em uma nota técnica assinada por seis pesquisadores, há um alerta para essa flexibilização. “A Embrapa Soja manifesta publicamente sua profunda preocupação (…), alertando que sua implementação poderá colocar em risco a produção de soja”, diz o documento. “Caso aprovada, poderá estimular outros Estados a reverem suas normativas nessa linha, colocando em perigo a cadeia brasileira de soja”.  

Segundo a instituição, o vazio sanitário e a data limite de plantio fixada em 31 de dezembro são medidas que têm funcionado no combate à ferrugem da soja. Estender o período de plantio aumentaria a quantidade de aplicações de fungicidas, o que, segundo a Embrapa, aumentaria a resistência das pragas aos produtos, levando, finalmente, à sua ineficiência. 

Diretor de Defesa Agropecuária da Adapar, o engenheiro agrônomo Adriano Riesemberg explicou à Globo Rural que a iniciativa se deve a uma demanda dos produtores do sudoeste paranaense, próximos da fronteira com Santa Catarina. “A região tem uma situação diferente do restante do estado devido ao clima, especialmente à temperatura. Lá, o milho safrinha plantado após janeiro não costuma ter uma boa produtividade”, explicou.  

A ideia, então, seria plantar o milho antes de dezembro, trocando lugar com a soja. Segundo Riesemberg, esta é uma demanda concentrada no sudoeste do Estado, e a mudança da data limite não afetaria o cronograma do restante do Paraná – ainda que a possível mudança na data contemple todo o território paranaense.

“Mas há outra questão, ainda, bem importante. O oeste catarinense, na fronteira com o sudoeste do Paraná, também produz soja. Há, inclusive, propriedades com parte da lavoura em cada Estado. E Santa Catarina não adota essa medida que limita o plantio até 31 de dezembro. Lá, o teto é em fevereiro”, explica Riesemberg.

Para ele, essa diferença torna a medida paranaense pouco eficaz, ou, no mínimo, compromete sua eficácia, uma vez que pode ocorrer uma migração da ferrugem de Santa Catarina para o Paraná mesmo após o dia 31 de dezembro. “E fica difícil pra gente exigir esse sacrifício do produtor paranaense enquanto ele vê que estão semeando no Estado vizinho. Então, em vez de proibir, sugerimos condicionar. Com a implementação dessa medida, o limite seguiria sendo o dia 31. Após essa data, não seria proibido semear, mas o produtor teria que seguir todas as exigências que foram incluídas na consulta pública”.

A consulta pública da Adapar segue aberta até o dia 2 de novembro. Riesemberg comentou que até agora a Agência recebeu sugestões positivas e negativas à implementação, mas a decisão será tomada após o término do prazo para receber recomendações.

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