Quem chega à Fazenda Recanto, conhecida pela produção de um café que carrega o mesmo nome da propriedade encontra um ambiente agradável. Uma bela e ampla sede, onde vivem a proprietária e sua família, além de imóveis e instalações necessárias para as etapas de produção e beneficiamento do grão: trilha, secador, terreiros, lavador, classificação.
Localizada no município de Machado, ao Sul de Minas Gerais, a propriedade esteve envolvida em uma aura de sucesso desde o início de suas atividades, em 1896, quando Olímpio Souza Magalhães, bisavô da atual proprietária, iniciou o plantio de café e, mais tarde, em 1932, seu filho e sucessor, Lázaro Cândido Magalhães, ganhou um prêmio mundial de melhor grão.
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"Quem vem aqui está chegando a lugares de muitas histórias", conta a representante da quarta geração de herdeiros da propriedade, Maria Selma Magalhães Paiva. Ela tornou-se fazendeira, transferindo-se com o marido para o lugar em 1985, quando ambos se formaram em agronomia, mas só assumiu os negócios dez anos mais tarde, quando o pai faleceu.
"Quando cheguei não tinha casa, não tinha banheiro… Hoje estamos tentando trazer toda a comodidade da cidade para cá, fazer desse lugar inóspito o meu lugar e o dos meus netos, para que eles sintam que este é o lugar deles", diz se referindo às muitas benfeitorias realizadas.
Quando se decidiu pela universidade de agronomia, seu pai, que também era agrônomo, não ficou feliz. "Ele queria que eu fizesse outra carreira, como medicina ou direito, algo que ajudasse a família de outra forma", diz. Mas, não teve jeito.
Maria Selma afirma que no Dia do Agricultor (28 de julho) é merecido o reconhecimento dessa profissão tão pouco valorizada. "Acho algo muito simples, mas sem o qual não se vive. Se não tiver agricultura, o mundo não vive. Nosso dia-a-dia é sempre com pessoas simples e isso é o que fica para as pessoas, como algo menos importante", diz.
Como é comum em outras fazendas, na Recanto cerca de 90% dos trabalhadores são homens. Um ambiente já familiar para Maria Selma que estudou agronomia em uma turma de 40 alunos, dos quais 38 eram do sexo masculino. No dia-a-dia de trabalho na Fazenda, a divisão de tarefas é clara com o marido, Afrânio José Ferreira Paiva: ela é responsável pela parte administrativa e ele, pela operacional.
Considerada uma liderança como mulher do campo, no comando de quase 70 funcionários na produção de 5 mil sacas por ano de cinco diferentes tipos de grãos, ela destaca a importância de usar a sabedoria para se estabelecer. "Só com trabalho é possível se impor e ser respeitada. Batendo de frente não se consegue nada", diz. "Se fazer respeitar no meio machista é muito difícil, principalmente no meio rural. Mas cada dia a gente vence um pouquinho."
Entre as maiores dificuldades que viveu, ocorrida logo que assumiu as terras, foi a introdução de medidas de cuidado com o meio ambiente. Como primeiro passo, proibiu a entrada na mata da fazenda. "Foi um problema. Existia na região, inclusive desde o meu pai e do meu avô, o hábito de entrar ali para caçar", diz.
A resistência que encontrou com a medida foi desgastante, mas acabou valendo a pena. "Houve uma regeneração natural no local da reserva. Os pássaros voltaram, a mata ciliar se recuperou", conta.
Desde então, dos 438 hectares da fazenda, 167 passaram a ser dedicados a reserva ambiental como Área de Preservação Permanente (APP). Com o tempo, a iniciativa levou ao aumento da biodiversidade no local e à conquista da certificação internacional Rainforest Alliance.
A produtividade da área dedicada ao plantio, 170 hectares, é outro motivo de satisfação: uma surpreendente média de 38 sacas por hectare, sem utilização de irrigação, ante a média nacional de 22 sacas por hectare.
A sucessão dos negócios não é motivo para preocupação, segundo a atual proprietária da Fazenda Recanto. Dos seus três filhos, Paula, a do meio, de 28 anos, já se definiu pela carreira junto à família na produção de café. "Foi um alívio, junto com felicidade e um pouco de procupação com possíveis dificuldades de se estabelecer", conta. A preocupação no entanto, logo se dissipou com a dedicação e capacitação que vem sendo adquirida pela filha. Entre outras experiências e cursos, Paula obteve por exemplo o título de habilitação para emitir laudos de qualidade de bebida de café e para participar como juíza de concursos nacionais.
A provável sucessora do café Recanto diz considerar uma grande responsabilidade manter o trabalho realizados pelos antepassados ao longo dos anos. "Meu avô era um empreendedor, conseguiu manter o negócio, investiu em educação, fez faculdade, procurou se diferenciar. As irmãs dele tiveram um pouco mais de facilidade. Acho que temos que buscar nos destacar, pois hoje todos têm acesso às mesmas informações", afirma Paula. "Busco fazer isso me especializando, trocando experiências, fazendo cursos, viajando."
*A jornalista viajou a convite da Bayer CropScience
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