O excesso global de oferta de milho, trigo e outros grãos está finalmente diminuindo, mas os preços ainda não se recuperaram de forma significativa. Uma combinação de demanda robusta por grãos para ração animal e estiagens em lugares como Kansas e a região do Mar Negro ajudou a reduzir os enormes estoques mundiais que se formaram nos últimos anos, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Mas essa redução não teve um grande impacto sobre os preços. Isso porque fundos de hedge e outros investidores vêm se concentrando principalmente em disputas comerciais envolvendo EUA, China e México, que podem afetar a demanda e deixar agricultores americanos com estoques ainda maiores.
Os futuros de milho na Bolsa de Chicago (CBOT) caíram 15% desde o pico registrado no fim de maio. Na semana passada, atingiram o menor nível em quase um ano. Os preços de trigo caíram cerca de 10% no mesmo período, e o do algodão recuou 7% desde meados de junho. "É uma situação nova para todos. Quando você tem esse tipo de incerteza e não há uma cartilha, todos vendem tudo. Esse pessimismo é mais evidente no mercado de milho", disse Craig Turner, operador sênior da Daniels Trading em Chicago.
De acordo com os dados mais recentes da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), fundos de hedge e outros especuladores detinham um saldo vendido de mais de 100 mil contratos futuros e opções. Em junho, mantinham uma posição líquida comprada de tamanho parecido.
Esse investidores estão apostando na queda das cotações embora o USDA tenha projetado uma redução dos estoques do grão no ano que vem. Segundo o governo dos EUA, os estoques globais de milho ao fim da temporada 2018/19 devem somar 152 milhões de toneladas, volume 20% maior do que o estimado para o fim do ciclo atual. Já os estoques domésticos devem diminuir quase 25% na mesma comparação. Por causa da produção volumosa dos últimos anos, as pessoas "presumem que a oferta sempre vai estar lá", disse Dan Hueber, da consultoria The Hueber Report.
Traders de trigo e algodão estão enfrentando uma situação parecida. O USDA prevê uma redução de 5% nos estoques globais de trigo em 2018/19 em relação à temporada atual, e uma queda de mais de 8% nas reservas de algodão. Muitas dessas commodities são alvos em disputas comerciais. No começo do mês, a China impôs tarifas sobre soja, milho, trigo e algodão dos EUA. O México, um dos maiores compradores de grãos dos EUA, sobretaxou produtos norte-americanos como carne suína e queijo, e muitos acreditam que o milho será incluído na lista em caso de uma escalada das tensões.
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O excesso de oferta de commodities agrícolas, motivado em parte pelo aumento da produção em países como Brasil e Rússia, reduziu o apetite de investidores e acabou com a volatilidade nos mercados. Há alguns meses, muitos apostavam que a situação estava melhorando, até que a disputa comercial entre EUA e China começou a se intensificar.
"Isso frustrou muitos analistas, porque as coisas aparentemente estavam melhorando. Não acho que as pessoas acreditavam que (a disputa comercial) prosseguiria da forma como prosseguiu", disse Michael McDougall, vice-presidente sênior da ED&F Man Capital Markets.
Analistas dizem que traders estão se baseando no desempenho da soja, que caiu na semana passada ao menor nível em quase dez anos. A China é o maior comprador da oleaginosa norte-americana. Com a tarifa de 25% imposta por Pequim à soja dos EUA, muitos importadores chineses estão recorrendo ao Brasil, mas o USDA acredita que os custos mais altos vão forçá-los a reduzir o consumo. Como resultado, as importações chinesas devem diminuir, o que elevaria os estoques globais no próximo ano.
Os preços de várias commodities agrícolas passaram a subir nesta semana, mas, enquanto houver incertezas sobre os fluxos de exportação, traders podem relutar em continuar apostando na melhora da perspectiva de longo prazo.
Peter Mooses, que negocia algodão e outras commodities agrícolas na RJO Futures em Chicago, disse que os preços estariam subindo se não fossem as tensões comerciais. Elas podem arruinar as referências normais, "que são fundamentos e gráficos", disse.
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