Reforçando o coro dos descontentes com a política de preços mínimos do frete rodoviário, os exportadores de café não se arriscam a estimar perdas em função da medida. Para o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé), Nelson Carvalhaes, o cenário do mercado só deve estar mais claro pelo menos daqui um mês.
Carvalhaes reconhece que pode haver um impacto negativo da tabela do frete sobre a cafeicultura. Segundo ele, praticamente toda a produção é transportada por rodovia. No entanto, o custo do transporte não chega a representar mais de 3% do valor de uma saca de 60 quilos. Situação bem diferente da de segmentos como soja e milho, onde o frete tem mais peso.
“Para o café, qualquer centavo de ganho é importante. Mas o efeito do frete no preço do produto é pequeno. A tabela é um fato novo e o momento é delicado porque o café precisa sair da produção. Precisamos ver como isso vai funcionar durante a safra”, diz o presidente do CeCafé.
O executivo avalia que o mercado vinha funcionando depois do fim da greve dos caminhoneiros, apesar do impasse nas discussões sobre o preço mínimo do frete rodoviário. Tanto que as exportações de café cresceram em junho, de acordo com os dados da própria entidade, divulgados nesta semana.
Os embarques de robusta somaram 281,5 mil sacas de 60 quilos no mês passado. Em maio, tinham sido pouco mais de 46 mil sacas e em junho de 2017 quase 20 mil sacas da variedade.
As exportações de arábica totalizaram 1,91 milhão de sacas em junho, alta de 1,9% em relação a junho de 2017 (1,87 milhão de sacas). Em maio deste ano, os exportadores enviaram a outros mercados 1,43 milhão de sacas.
No total, somando café verde e industrializado, o Brasil exportou 2,47 milhões de sacas de 60 quilos em junho, 12,7% a mais que no mesmo mês em 2017, quando as vendas totalizaram 2,19 milhões de sacas.
Na visão do CeCafé, parte do desempenho é explicada pelo fim da greve dos caminhoneiros, no início de junho. Cargas represadas com os protestos voltaram a circular rumo aos terminais portuários. Especialmente o de Santos, por onde sai a maior quantidade de café brasileiro com destino ao exterior.
Como parte do acordo com os caminhoneiros, o governo editou a Medida Provisória 832, que estabelece os preços mínimos transporte rodoviário de cargas no Brasil. O texto foi aprovado por Câmara e Senado, contrariando lideranças do agronegócio.
O frete mínimo também é tema de ações na Justiça. A Confederação Da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) moveu uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal (STF). Argumenta que fere princípios da livre iniciativa e concorrência e que o preço mínimo deve servir apenas como referência e não ter “caráter impositivo”.
O presidente do CeCafé, Nelson Carvalhaes, mantém a expectativa do Brasil encerrar 2018 com exportações de café entre 33 milhões e 34 milhões de sacas, amparadas, principalmente, na retomada da produção nacional.
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