O El Niño, fenômeno caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico Equatorial, tem grandes chances de se firmar até dezembro de 2018, trazendo mais chuva para o Sul e Sudeste do Brasil e seca para o Norte e Nordeste, é o que indica a meteorologia. Mas, enquanto o evento climático não se formar totalmente, os produtores rurais precisam ficar atentos devido à imprevisibilidade das chuvas. Segundo Celso Oliveira, meteorologista da Somar Meteorologia, a primeira chuva da Primavera (a estação inicia no dia 22 de setembro) virá antes do tempo para o Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
O início da safra deve sofrer impactos em outubro, com chuvas irregulares. “Chove em setembro? Sim, mas pode não chover em outubro. Acontecerá algo parecido com o que ocorreu em 2014. O produtor não poderá trabalhar com a hipótese de linearidade”, explica.
Renata Tedeschi, climatologista do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), diz que há 57% de chance da ocorrência do fenômeno a partir de agosto.
O CPTEC recebe os dados sobre a temperatura do Pacífico Equatorial dos Estados Unidos, por meio do International Research Institute for Climate and Society (IRI). Mas é necessário que o aquecimento anormal na superfície do mar seja mantido por mais seis meses, para que assim seja comprovada a ocorrência do El Niño. “Hoje é maior a probabilidade que o El Niño ocorra no próximo trimestre. Mas ainda é preciso esperar entre setembro e outubro, quando acontecem os maiores impactos”, explica Renata.
Graziella Gonçalves, meteorologista da Climatempo, avalia que o fenômeno possa se firmar entre dezembro e janeiro de 2018. “Ainda não se caracterizou o El Niño, mas já notamos aquecimento das águas da superfície do oceano em 0,2 grau Celsius”, explica Graziella. “Por enquanto, estamos em neutralidade climática.”
Caso seja confirmado, El Niño pode trazer prejuízo ao trigo no Rio Grande do Sul e às plantações no Nordeste. “O trigo precisa de umidade no solo mas também precisa de irradiação, além de gostar de frio. Com o El Niño, não há frio. E com muita chuva, há mais risco de doenças e fungos”, explica Celso Oliveira, da Somar Meteorologia. “Também falta a incidência de luz solar ideal para o crescimento da cultura. Ano de El Niño não costuma ser bom para o trigo.”
O fenômeno é provocado por uma série de fatores que envolvem a atmosfera. Um deles é a força dos chamados ventos alísios, que sopram da América para a Ásia. Com a redução de intensidade desses ventos, as águas se aquecem formando nuvens carregadas, alterando a pressão atmosférica. Graziella explica que a Zona de Convergência Intertropical, responsável pelo regime de chuvas no Nordeste, praticamente é impedida de avançar para a região, explicando em parte a seca na região em eventos como esse. Ao se configurar El Niño, a meteorologia espera um verão drástico para o Nordeste e riscos às lavouras de verão do oeste da Bahia.
Enquanto não se há certeza sobre o El Niño, a previsão é que as chuvas continuem irregulares no Sul do País e no Centro Oeste, diz Graziella. Segundo ela, no final de julho uma nova massa de ar frio deverá derrubar as temperaturas no Sul e Sudeste, embora não deva durar mais do que quatro dias. “A chuva voltará nas próximas semanas ao Rio Grande do Sul, mas não de uma boa qualidade, será mais esparsa. E a área central do País continuará seca”, explica. Até o fim do mês é esperado chuvas para o Paraná e Rio Grande do Sul, capazes de garantir a umidade do solo.
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