O pesquisador sênior do Imazon, Paulo Barreto, acredita que esteja nas mãos principalmente do mercado, pôr um freio no desmatamento na Amazônia promovido pela pecuária. "O governo atual já deu seu recado em relação à demarcação de terras indígenas, causas ambientais e desmatamento. Já disse que isso não é um problema. Resta saber se o mercado vai achar isso um problema", disse Barreto agora pela manhã, durante o evento Jornalistas em Diálogo – A pecuária na Amazônia, Avanços e Desafios, promovido pelo site de jornalismo ambiental O Eco e pelo Instituto Socioambiental (ISA).
Ele relata que entre 2005 e 2012 houve um controle mais rigoroso do desmatamento no Norte do País, principalmente por políticas punitivas e fiscalização mais rigorosa. "Depois disso, o problema recrudesceu", continuou. "O que sabemos, também, é que quando o cerco se fecha, com maior controle, o pecuarista vai buscar mais tecnologias (para recuperar áreas degradadas, por exemplo) e evita abrir áreas novas." Barreto comentou que, depois daquele período (pós-2015), a fiscalização do desmatamento "fraquejou".
O pesquisador citou, ainda, que a efetiva aplicação de multas e punições, como confisco de gado em caso de este estar sendo criado em áreas ilegais, também é uma política efetiva. "Em São Félix do Xingu (PA), por exemplo, a taxa de desmatamento diminuiu 75% com multas pesadas e apreensão do gado." Ele lamentou, entretanto, que, para o governo atual, do presidente Jair Bolsonaro, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é apenas "uma fábrica de multas".
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"Mas essa postura pode se refletir no mercado, sobretudo no externo. Temos de lembrar que 20% da produção brasileira de carne bovina vai para exportação. Essa falta de política efetiva contra o desmatamento na Amazônia pode, sim, se refletir lá fora." Ele citou fundos bilionários estrangeiros que deixaram de destinar recursos a frigoríficos brasileiros depois que estourou o escândalo das delações da JBS, em 2017.
O crédito rural não voltado à adoção de mais tecnologia, na visão de Barreto, também é um entrave para reduzir o desmatamento. "O pecuarista tem acesso ao crédito, mas não à tecnologia. E ele só busca tecnologia quando a fiscalização funciona."
Barreto avaliou, ainda, que, além do mercado, está também "na mão dos frigoríficos" frear a retirada de mata nativa na Amazônia para formação de pastagens. "São 110 empresas frigoríficas que possuem 93% da capacidade de abate na Amazônia. Elas adquirem gado de 393 mil fazendas", relatou Barreto, acrescentando que a maioria delas assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), se comprometendo a não adquirir gado sobretudo de áreas desmatadas ilegalmente e de terras indígenas. "Essas empresas que assinaram o TAC detêm 73% da capacidade de abate da Amazônia."
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