Levantamento feito com produtoras rurais em 17 países pela Corteva Agriscience, divisão agrícola da DowDuPont, revela um lento progresso das mulheres no agronegócio, um segmento onde a disparidade financeira, a falta de reconhecimento e o pouco acesso a treinamentos são os principais entraves. No Brasil, quase 80% das entrevistadas afirmam que existe discriminação de gênero no agronegócio e quase 50% relatam ganhar menos do que os homens – uma percepção pior do que nos demais países, cuja média é de 40%. Apesar disso, 63% das brasileiras disseram que atualmente existe menos discriminação do que há 10 anos e 44% consideram que o país levará de uma a três décadas para alcançar equidade.
“Como em quase todos os setores, o agronegócio também reconheceu a defasagem de mulheres e também a importância que elas desempenham em todas as cadeias. Aqui no Brasil, já podemos ver muitas iniciativas direcionadas para elas no setor, como o Congresso Nacional das Mulheres do Agro, que está crescendo cada vez mais com espaços para discussão, networking e capacitação exclusivos para as mulheres – uma evolução necessária”, avalia Luiz Cornacchion, diretor executivo da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio).
A história da produtora rural Hilda Loschi, moradora de Claro dos Poções, em Minas Gerais, ilustra bem a realidade da mulher brasileira no campo. Filha de agricultores, ela assumiu a propriedade há 25 anos, após a morte do marido. Com três filhos pequenos, coube a ela zelar pelo negócio da família, que hoje produz bananas, uvas e gado nelore.
Questionada sobre os resultados da pesquisa, Hilda diz que vê diferenças positivas ao comparar o passado com o presente. O aumento de participação feminina no agronegócio, em posições de protagonismo, é algo que ela acredita melhorar no futuro. “Hoje a sociedade já enxerga essa questão de forma diferente. Essa mudança, que está ocorrendo de forma global, vai refletir muito na questão do preconceito. Vamos ter que conviver de forma mais respeitosa e tirar o melhor das características de cada sexo. E uma chave para isso está na capacitação”, avalia ela, que faz questão de empregar 50% de mulheres em sua propriedade.
A previsão vai ao encontro de um dado importante revelado pela pesquisa da Corteva: 89% das mulheres no Brasil gostariam de ter mais acesso a treinamentos na área do agronegócio. Tal informação foi crucial para estimular a criação da Academia de Liderança das Mulheres no Agronegócio, iniciativa conjunta da Corteva Agriscience com a Fundação Dom Cabral (FDC) e a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) para capacitar as mulheres brasileiras que tiram seu sustento e de suas famílias da atividade no campo.
O treinamento foi apresentado em detalhes durante a terceira edição do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio. O projeto piloto, que é gratuito, selecionou 20 mulheres que frequentarão os três módulos do curso. Neles, as aulas terão como temas: liderança, gestão inovadora, contexto político e regulatório.
Além disso, na última etapa as cinco participantes que desenvolverem os melhores projetos estratégicos para aprimorar a gestão de uma propriedade rural terão a oportunidade de ir aos Estados Unidos, onde conhecerão a sede da Corteva Agriscience, visitarão fazendas-modelo e conversarão com produtoras rurais norte-americanas. “Nosso papel nessa parceria é estruturar o programa e trazer metodologias e conteúdos adequados e necessários para o desenvolvimento dessas mulheres do agronegócio. Isso apresenta grande alinhamento com nossa visão sobre o desenvolvimento da liderança feminina, que é promover, facilitar e criar um equilíbrio de gênero nas organizações”, explica Viviane Barreto, diretora da Fundação Dom Cabral.
De acordo com ela, a proposta da Academia de Liderança das Mulheres no Agronegócio vai além de um curso, focando na criação de uma comunidade onde as mulheres tornam-se protagonistas de seus negócios e engajam-se na criação de um legado. Prova disso está na previsão de ampliação do projeto em 2020 com mais 280 vagas. “Essa é uma oportunidade, uma grande incubadora para criação de desenvolvimento de multiplicadoras do protagonismo feminino no agronegócio no Brasil. Que elas sirvam de inspiração para outras mulheres espalhadas pelo interior do país”, finaliza Viviane.
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