Reduzir os índices de fome no mundo é a temática da FAO – divisão de Alimentação e Agricultura da Organização das Nações Unidas – para o Dia Mundial da Alimentação, em 2018, e para sustentar esta discussão são levantadas diversas bandeiras, entre elas, o uso responsável das fontes, como terra e água. Todos sabemos da demanda crescente por alimentos no mundo e que em 2100 teremos uma população estimada em onze bilhões de pessoas, sendo o Brasil um dos poucos países com condições de subsidiar essa demanda, ao mesmo tempo em que almeja produzir mais com menos e de forma ambientalmente sustentável.
No próprio documento que a ONU publicou sobre o Dia Mundial da Alimentação, baseado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, há um pedido de contribuição do setor agrícola, para que sejam adotados métodos sustentáveis para aumentar a produtividade e a renda. Temos terra, água e clima que nos ajudam a produzir o suficiente para alimentar a população brasileira, e ainda ser o terceiro maior exportador de commodities agrícolas, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), ficando atrás apenas de Europa e EUA. A produção mundial de alimentos precisa crescer 70%, os cereais, que são muitas vezes a base da alimentação de diversos países, devem aumentar para três bilhões de toneladas por ano, ante os 2,1 bilhões produzidos hoje, segundo a FAO.
Diante do desafio da segurança alimentar, que resvala em algumas barreiras dentro de uma propriedade rural, os cuidados com água e solo se destacam. Inclusive, estes critérios já foram mencionados pelo representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, como um dos pilares dos desafios da agricultura brasileira. É na terra e na água que tudo começa e termina ao longo de uma safra, eles são complementares, indiscutíveis protagonistas da produção de alimentos. São elementos naturais de uma indústria a céu aberto que permite ao homem fazer agricultura desde o período pré-histórico.
Cuidar da sustentabilidade desses dois elementos é primordial para que haja agricultura, principalmente no Cerrado, onde o agricultor encontra terras com déficit nutricional. Uma das soluções disponíveis para o agricultor é a prática do plantio direto na palha, em que ela fica no solo contribuindo com matéria orgânica e as raízes que permaneceram evitam sua compactação, contribuindo para a absorção de água da chuva, fato que evita a erosão. O processo também contribui para a não disseminação de plantas daninhas.
O plantio direto aliado à rotação de cultivos é uma das práticas mais bem desenvolvidas para que o agricultor tenha controle eficiente de pragas e plantas indesejadas, assim como também melhora as condições químicas, físicas e biológicas de terras agricultáveis.
Rotacionar cultivos quebra o ciclo de pragas que se desenvolvem em determinadas culturas, podendo até erradicá-las. Por exemplo, na fazenda Nossa Senhora Aparecida, localizada em Água Fria de Goiás (GO), cuidados com o solo e com a água são praticados desde 1995, quando os proprietários se instalaram na região. Hoje, a propriedade faz parte do projeto FowardFarming, iniciativa liderada pela Bayer que promove a sustentabilidade em propriedades agrícolas em todo o mundo.
Com pelo menos cinco reservatórios que guardam água da chuva e uma nascente que fica dentro da fazenda, a preocupação com o uso racional da água se estende pelos 2.700 hectares da área da família Fiorese, que consegue fazer a irrigação de 30% da área plantada e pode iniciar o plantio mais tranquilamente, independente das condições climáticas. Também há bacias de captação de água ao longo das estradas que cortam a propriedade, assim a construção consegue evitar erosões e essa água retorna para o lençol freático.
Instituições como a Apex-Brasil, NAPC – Núcleo de Avaliações de Políticas Climáticas da PUC-Rio e a Sociedade Rural Brasileira realizaram estudos indicando que o Brasil é um dos países que possuem as regras mais rígidas de proteção de Áreas de Preservação Permanente (APP). Dados do CAR (Cadastro Ambiental Rural) apontam que áreas dedicadas à preservação de vegetação nativa pelos agricultores são maiores que a superfície de qualquer país da União Europeia ou mesmo América Latina, com exceção da Argentina.
Somos um país genuinamente agrícola, nossa história se funde com a evolução da agricultura brasileira. Aprendemos a plantar cana-de-açúcar, passamos pela política do café com leite e até hoje o agronegócio é um dos pilares da balança comercial do País. O Brasil é líder em alguns segmentos, como café e suco de laranja, gigante produtor de soja, milho, algodão, carne bovina e cana-de-açúcar e autossuficiente com a maioria das culturas básicas de consumo interno.
Praticar a sustentabilidade é um dever, está na lei, mas o agricultor que vive da terra e é dependente da “indústria a céu aberto” não é sustentável apenas por obrigação, mas o faz por ter a certeza de que a terra devolve o cuidado que é semeado. Plantamos e colhemos mais de uma safra de vários alimentos ao longo do ano, e à medida em que todos cuidarem da nossa terra e da nossa água teremos ainda mais acréscimo na produtividade e com responsabilidade, assim como pede a Organização das Nações das Unidas.
*Alessandra Fajardo é engenheira agrônoma e diretora de políticas agrícolas e relacionamento com stakeholders da Bayer
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