Representantes do agronegócio reforçaram as críticas ao tabelamento do frete rodoviário durante o 6º Fórum Caminhos da Safra, realizado em São Paulo (SP) nesta quinta-feira (13/9). O debate, promovido pela Revista GLOBO RURAL, discutiu as dificuldades de logística no Brasil em um ano marcado pela greve dos caminhoneiros, que parou o país entre maio e junho.
“Os caminhoneiros protestaram, mas adotaram o caminho errado. Foram negociar com o governo quando deveriam ter sentado conosco. O governo não chamou os produtores para dar suas posições”, disse o presidente da Comissão de Logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antônio Fayet.
Em apresentação feita na abertura do evento, Fayet avaliou que a tabela de frete é um equívoco e traz prejuízos para a economia brasileira. “O governo ainda impõe multa para quem contratar errado. Não é só um problema do caminhoneiro e do produtor. São cadeias produtivas envolvidas”.
Diretor de logística da Yara Fertilizantes, André Pérez afirmou que, em função do tabelamento, o custo do transporte de produtos para a empresa aumentou em até 150% em algumas regiões do país. A companhia utiliza cerca de 500 mil caminhões por ano, movimentando 10 milhões de toneladas em um mercado de 34 milhões.
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“Como eu faço? Tenho uma carteira vendida para sete, oito meses e volto para o meu cliente e digo que o custo subiu 150%. Estamos entregando produto, mas com custo maior. Somos uma empresa listada em bolsa e os dois primeiros itens em que somos analisados são compliance e segurança”, disse o executivo.
Ricardo Nascimbeni, diretor de cadeia de suprimentos de grãos da Cargill, lembrou que a comercialização da safra brasileira está praticamente parada em função do impasse no frete. Para o executivo, a tabela é inconstitucional, ilegal e “viciada” e a forma como a situação está sendo resolvida é irresponsável.
“Espero que os assessores do ministro tenham a percepção do risco de vergonha que se pode passar ao interpretar essa questão do tabelamento. É um novo imposto no país”, disse, em referência ao ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), a quem cabe decidir se a lei que institui o piso para o frete está de acordo com a Constituição.
Para Claudio Graeff, presidente do Comitê de Logística da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), o Supremo Tribunal Federal “sentou” sobre a decisão e colocou o setor em um “beco sem saída”: cumprir a tabela traz prejuízos e, sem expectativa de retorno, as empresas do setor deixam de fazer investimentos.
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“O Brasil é um país capitalista e de livre mercado. Quando há uma tabela, quebra-se essa regra. Agora é a ANTT que define e não leva em conta o custo de cada trajeto”, criticou, ressaltando que cada região do Brasil tem uma realidade de custo de transporte. “Em alguns lugares os fretes estão mais baratos, mas em outros houve um aumento absurdo”, acrescentou.
A relação entre a oferta e a demanda por transporte no Brasil foi um dos temas do debate. Anos atrás, o governo federal incluiu os caminhões em um programa de financiamento a juros baixos, na tentativa de estimular o mercado e possibilitar a renovação da frota. Atualmente, a decisão é avaliada por críticos como uma das causas da depreciação do frete rodoviário no Brasil.
O diretor de vendas da Scania no Brasil, Silvio Munhoz, avaliou que a oferta de caminhões no Brasil hoje é maior do que a demanda. No entanto, há um desvio de quantidade e de qualidade, já que a frota circulando nas estradas atualmente é grande e antiga.
“A idade da frota é maior do que deveria ser e torna o transporte mais caro porque é ineficiente. O governo incentivou a renovação, mas não houve essa renovação porque nenhum caminhão deixou de ser usado. Hoje se vê caminhões de 30 anos transportando”, afirmou o executivo.
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Em meio ao cenário atual de incerteza, o diretor de logística da Yara Fertilizantes descartou, no momento, a possibilidade da empresa investir em frota própria como forme de diluir o custo do frete. Segundo ele, a logística viabiliza, mas não é parte do negócio da multinacional.
“No porto de São Luis, onde temos operações em trechos mais curtos, utilizamos nossos caminhões. Mas seria uma aventura agora montar uma transportadora, comprar 2 mil, 3 mil caminhões e fazer alguma coisa. Neste momento, nem sabemos o que se está discutindo”, afirmou, lembrando novamente da discussão judicial da lei do frete.
“Já temos clara a percepção da viabilidade ou não, mas acreditamos nas instituições. Se isso for considerado ilegal, não há porque desequilibrar ainda mais um mercado que já está desequilibrado”, comentou Ricardo Nascimbeni, da Cargill.
Sobre os rumores de uma nova greve de caminhoneiros, participantes do Fórum Caminhos da Safra avaliaram que não há sentido, já que as reivindicações dos caminhoneiros foram atendidas pelo governo. “Não há justificativa racional”, avaliou Nascimbeni, da Cargill.
“Não faz sentido. Há pessoas se dizendo representantes de caminhoneiros autônomos, mas não se sabe o que eles pensam. As pessoas conscientes do transporte não falam em nova greve como falavam na outra”, garantiu Adelino Bissoni, produtor rural e sócio da Botuverá Transportes.
Assista aqui o debate completo do 6º Fórum Caminhos da Safra.
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