Presente aqui antes da chegada dos colonizadores europeus no século XVI, o abieiro (Pouteria caimito) é retratado em várias obras utilizadas como registro de missionários, naturalistas e viajantes que percorreram a Amazônia nos períodos colonial, imperial e nas primeiras décadas da República. Bastante cultivado em quintais, pomares e jardins brasileiros por muitos anos, sua importância como produto agrícola também foi destacada por botânicos estrangeiros em passagem pelo país.
Contudo, o abiu passou a perder espaço no mercado consumidor a partir de meados dos anos 1960, período em que era uma das frutas mais comuns no Estado do Pará e, por isso, também ficou conhecido como abiu-do-pará. O aumento do comércio de frutas de outras regiões do Brasil e oriundas de diferentes países e a falta de pesquisas em melhoramento genético, controle de pragas e conservação pós-colheita contribuíram para reduzir a competitividade do fruto do abieiro, também chamado de abiu-agulha no caso dos tipos com extremidade pontiaguda comprida.
Em anos recentes, porém, a procura pelo abiu tem aumentado com o crescimento do interesse pelos sabores diversificados da fruticultura nacional. Maduro quando a casca apresenta-se amarela, o abiu é dotado de nutrientes como potássio, cálcio, fósforo, magnésio e ferro, além de vitaminas, com destaque para a riboflavina. A polpa doce, gelatinosa e translúcida, que envolve de uma a cinco sementes lisas, é consumida somente in natura, pois possui látex, que coagula rapidamente ao ter contato com o ar e tem um processo veloz de escurecimento, por causa da oxidação enzimática.
Pertencente à família Sapotaceae, que inclui a planta do canistel, o abieiro é uma árvore de pequeno porte, que pode atingir de 10 a 15 metros de altura na natureza. Se propagada por via assexuada (enxertia ou estaquia), não ultrapassa 7 metros em locais com bastante luz solar, podendo ser plantado em quintais. O crescimento, no entanto, pode ser controlado com duas podas por ano da porção terminal.
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A copa do abieiro chega a 8 metros de diâmetro e conta com flores amarelas que se mantêm abertas por mais de 24 horas, possibilitando a polinização por insetos tanto de hábitos noturnos quanto diurnos. As florações da fruteira variam de acordo com a região do plantio, sendo três na Amazônia Central, por exemplo, com picos entre março e setembro e produção de frutos em abril, junho e outubro. Na Amazônia Oriental brasileira, a frutificação concentra-se nos primeiros meses do ano.
INÍCIO Além de viveiristas, sobretudo localizados no Estado do Pará, mudas enxertadas estão disponíveis até por meio do comércio eletrônico. Antes de comprar, porém, obtenha referências sobre o estabelecimento, para garantir uma aquisição segura. O campus de Jaboticabal da Universidade Estadual Paulista (Unesp) também fornece garfos, enquanto a Embrapa Amazônia Oriental, sementes na época da safra.
AMBIENTE Quente e úmido, com chuvas distribuídas o ano todo, é o ideal para o plantio do abieiro, que não suporta geadas. A espécie também se adapta a locais com temperaturas mais amenas (clima subtropical). A planta de abiu deve ser cultivada, contudo, em áreas com pleno sol, para atingir uma produção de frutos vigorosa, desde que não seja submetida a seca.
PROPAGAÇÃO Mais fácil é por via sexuada, método bastante utilizado pelos agricultores familiares. Entretanto, para pomares comerciais, recomenda-se a prática da enxertia por garfagem no topo em fenda cheia, com uso do próprio abieiro como porta-enxerto. A estaquia ainda não tem registros suficientes em larga escala para ser indicada.
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PLANTIO Deve ser em terra firme, com solos profundos e com boa drenagem o ano inteiro, se contar com irrigação suplementar. Caso contrário, dê preferência para o início do período de chuvas. Áreas de várzea alta sem inundações são mais uma alternativa. Uma dica para reduzir os custos é cultivar a fruteira em terrenos antes ocupados com plantas anuais ou semiperenes. Faça o tutoramento com estacas de bambu para que as mudas não tombem com rajadas de vento.
ESPAÇAMENTO Para plantas oriundas de sementes é de 5 x 5 metros, 8 x 8 metros ou 14 x 6 metros, enquanto para mudas obtidas por via assexuada é de 7 x 5 metros. É importante que as linhas sigam a orientação leste-oeste. Abra com dragas manuais, enxadões ou mecanicamente covas com dimensões de 40 x 40 x 40 centímetros.
ADUBAÇÃO De, no mínimo, 5 litros de esterco de galinha, ou 10 litros de cama de aviário, mais 200 gramas de superfosfato triplo para cada cova. O esterco de galinha pode ser substituído por 2 quilos de torta de mamona ou 8 litros de esterco de bovino, que devem estar fermentados. Em um raio de cerca de 50 centímetros da planta, aplique cobertura morta para diminuir a incidência de ervas daninhas e impedir variações bruscas de temperatura do solo.
PRODUÇÃO Inicial do abieiro multiplicado por sementes, aos dois anos de idade, raramente ultrapassa 2 quilos de frutos por planta. Porém, a partir do terceiro ano, a produtividade aumenta para, em média, 15 quilos de abius. No quarto ano, a frutificação pode chegar a 100 quilos, quantidade que é atingida somente aos oito anos em fruteiras enxertadas. Colha manualmente o abiu quando estiver com 50% a 70% da casca amarela, para uma vida pós-colheita mais longa.
Onde comprar: mudas e sementes podem ser adquiridas em viveiristas da região amazônica, colecionadores de espécies frutíferas da Região Sudeste, Universidade Estadual Paulista (Campus de Jaboticabal) e Embrapa Amazônia Oriental
Mais informações: Abieiro, publicação da série Frutas Nativas, que pode ser adquirida pelo site da livraria Funep (http://livraria.funep.org.br)
*CONSULTOR: José Edmar Urano de Carvalho, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Tv. Dr. Enéas Pinheiro, s/no, Belém (PA), Caixa Postal 48, CEP 66095-100, tel. (91) 3204-1000, www.embrapa.br/fale-conosco
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