Maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, tem 5,5 milhões de km², está presente em nove países e ocupa 40% do território da América do Sul. Sua dimensão territorial, entretanto, se torna um enorme desafio para a exploração sustentável. Esse foi um dos principais temas abordados no evento realizado pelo banco Santander, em parceria com a The Nature Conservancy (TNC), em São Paulo, na última segunda-feira (03/09). "A Amazônia precisa de investimentos em infraestrutura e logística para estimular a produção em escala. A logística é uma questão interdisciplinar, que requer diálogo entre governo e Estado. Por isso, investir em infraestrutura não é simplesmente fazer uma obra, mas é um investimento para a nação", define André Clark, presidente da Siemens no Brasil e conselheiro da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB).
Izabella Teixeira, ex-ministra do meio ambiente, enfatizou que investir em logística é sinônimo de inserção no mundo. "A Amazônia precisa de um programa de desenvolvimento que considere a logística da produção sustentável, além da segurança hídrica e climática do Bioma, que fazem parte da agenda do século 21. O modelo de gestão do governo também precisa mudar, porque há problemas nas três instâncias e instituições de controle. Não é só questão de planejamento, mas de criar meios para promover o acesso à região", explicou.
Segundo Patrícia Audi, superintendente executiva de relações institucionais do Santander, também existem desafios de governança e da gestão pública que dificultam a logística e a conservação do Bioma amazônico. "Não se pode pensar no desenvolvimento do país sem pensar na Amazônia. Mas a exploração sustentável demanda investimentos em logística, monitoramento do território e vontade política. É preciso envolver o governo estadual e federal para estruturar um planejamento de curto, médio e longo prazo que vise o escoamento da produção", concluiu.
Karen Oliveira, gerente de infraestrutura da TNC Brasil, também defendeu que é preciso ter uma visão integrada do território para promover o desenvolvimento sustentável e a expansão da infraestrutura na Amazônia. "A transformação territorial deve ser projetada em escala sustentável. Por isso, desenvolvemos o projeto Tapajós-3D, que ajuda a mapear o território, definir variáveis de planejamento da produção (áreas de importância biológica e áreas prioritárias de conservação) e promover o desenvolvimento socioeconômico da região", explicou.
Para Guilherme Quintella, presidente da Estação da Luz Participações (EDLP), a construção da Ferrogrão, ferrovia que ligará Sinop, no norte do Mato Grosso, até o porto fluvial de Miritituba (PA), no rio Tapajós, é uma das alternativas que devem auxiliar o escoamento da produção na região. "O investimento será vantajoso para o agronegócio da Amazônia, diminuirá o preço do frete, reduzirá o consumo de energia e a emissão de gases poluentes. Mas a obra é o meio, não o fim. Ainda é preciso aprimorar as políticas públicas", explicou.
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Raphael Medeiros, diretor do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, ressaltou que a falta de logística dificulta a conexão e é o fator que impulsiona os jovens a migrarem da região. "Eles não conseguem enxergar a Amazônia como uma oportunidade de negócio. Os empreendedores de lá precisam se conectar com outras regiões do país. Precisamos pensar em como podemos fazer a Amazônia chegar nas prateleiras de São Paulo", disse.
Apesar do entrave logístico, a exploração agrícola sustentável resulta em negócios como Cacauway e Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, iniciativas que associam o uso racional dos recursos naturais à conservação da floresta e à geração de emprego e renda no Bioma.
A Cacauway é a primeira fábrica de chocolate da Amazônia, criada em 2010 a partir da Cooperativa Agroindustrial da Transamazônica (Coopatrans) que reúne 40 produtores de cacau da agricultura familiar da região de Medicilândia (PA). Após 40 anos dedicados ao cultivo do cacau, a Coopatrans dedidiu fazer também o processamento do fruto, gerando valor ao produto primário e dando retorno aos cooperados.
Hélia Félix, fundadora do negócio, destacou que produzir com qualidade não é um problema e sim a falta de integração do território e de valorização da produção local. "Estamos no meio da Transamazônica. São muitas as barreiras para empreender na região. No começo, a maior parte das embalagens que consumíamos vinha da região Sudeste, o que gerava um ônus muito grande por conta do transporte. Então começamos a fazer nossas embalagens de forma artesanal, usando a própria folha do cacau, que, além de economizar o produto, gera mais emprego e renda para as pessoas", explicou.
Para a empreendedora, é preciso investimentos para enfrentar os problemas de logística. "Nós temos um produto de qualidade e força de vontade, mas ainda faltam políticas públicas e estradas para estimular a integração do território e valorizar a produção regional", enfatizou.
Atualmente, a Cacauway tem dez lojas — Pará, Goiás, Ceará, Amapá e Maranhão, que vendem geleias, licores, cacau em pó, tabletes e trufas de sabores regionais como açaí, castanha-do-Pará, cupuaçu e nibs de cacau.
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Na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, localizada no município de Santarém (PA), vivem 74 comunidades e 6.800 famílias que produzem artesanato e, ao mesmo tempo, ajudam a preservar cerca de 650 mil hectares de floresta. Considerada um modelo de gestão na Amazônia, a unidade é organizada em cerca de 50 associações locais – abarcadas por um associação-mãe, chamada Tapajoara – que participa do conselho gestor da Resex, que é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
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Andréa Cardoso de Almeida, representante da Organização das Associações de Moradores da Resex, ressaltou que o artesanato gera renda e também contribui para estimular o turismo na região. "Queremos que o povo faça um uso inteligente da reserva. O nosso povo sobrevive lá, mas nós queremos que ele viva. Com a produção de artesanato, nós vendemos um valor, e não um preço".
A representante da Resex ainda lembrou a importância da conservação do território pelas comunidades locais. "Nós precisamos de mais investimento em infraestrutura. Assim, as novas gerações poderão conhecer a nossa realidade não pela internet ou pelos livros, mas pelo o que ela é", afirmou.
Sérgio Rial, presidente do Santander Brasil, acredita que a demanda por terra no Brasil, seja pela sua grande qualidade, pelo potencial que o país já demonstrou em sua grande plataforma agrícola, é uma questão social, que deve ser resolvida com planejamento e boa gestão dos recursos. O executivo ainda enfatizou a importância do próximo governo incluir a preservação ambiental na agenda. "Proteger a Amazônia não é significa colocá-la em uma bolha de vidro, mas pensar em uma conservação integrada ao desenvolvimento", concluiu.
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